24.4.14

O detetive

Não há figura mais solitária, de completo isolamento social, na literatura, ou nos filmes, que o detetive. Com suas combinações, estratégias e caderninhos repletos de detalhes da vida alheia, seus objetos de estudo e investigação, traça perfis a lápis que denotam o nariz romano de determinada mulher que sai de casa todo dia às 9 da manhã mas nunca tem horário certo para voltar. Ou a magreza daquele marido que antes de partir com o carro em direção ao trabalho passa alguns minutos de frente ao volante olhando para o vazio, de dentro de sua garagem. São estudos físicos e comportamentais da psique humana que terminam por prender o detetive a esse amontoado de notas no papel. Descolado da vida e do contato social, mergulha na ficção alheia como se fosse a própria; no entanto, está sempre sozinho, a distância, escondido atrás do poste, invisível e inexistente. Um fantasma. 

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